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Descriminalização da maconha facilita acesso a tratamento para dependentes, diz advogado

O advogado criminalista e professor de direito penal da USP, Pierpaolo Cruz Bottini, afirmou em entrevista à CNN nesta quinta-feira (27), que a decisão do Supremo Tribunal Federal de descriminalizar a maconha dará a oportunidade de dependentes químicos de buscar tratamentos.

“Ao retirar o direito penal, você facilita o acesso a programas de saúde pública e de atendimento que precisam ser desenvolvidos para essa parcela da população”, destacou Bottini.

Ouça entrevista completa em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/descriminalizacao-da-maconha-facilita-acesso-a-tratamento-para-dependentes-diz-advogado/

Brasil tem 72 facções criminosas e falta braços para ‘seguir o dinheiro’

Estudo divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que o Coaf não consegue analisar os mais de 1,7 milhão de comunicados das operações suspeitas que recebe por ano

O Brasil tem 72 facções criminosas em atividade, sendo que duas delas possuem atuação transnacional (Comando Vermelho e PCC). Destas, 22 estão presentes em pelo menos 178 municípios da Amazônia Legal. As atividades ilegais abrangem diversos setores, mas o país não tem capacidade para rastrear o dinheiro. O alerta faz parte do estudo Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil, divulgado nesta terça-feira pela Esfera Brasil e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para se ter uma ideia de como “falta braços” para seguir o dinheiro, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), principal unidade de inteligência financeira do país, recebeu em 2023 pelo menos 1,7 milhão de Comunicações de Operações Suspeitas (COS) e 4,4 milhões de Comunicações de Operações em Espécie (COE), que são transações feitas em dinheiro vivo, mas apenas uma pequena parte dessas informações recebeu análise humana.

Isso significa que transações financeiras de uma série de crimes, que vão do tráfico de drogas a fraudes, de venda ilegal de ouro a contrabando de agrotóxicos, não são avaliadas em detalhes para que possam se transformar em insumo para investigação.

Com menos de 100 servidores públicos trabalhando em sua estrutura, o Coaf produziu 16.411 Relatórios de Informações financeiras em 2023, dos quais 33,5% foram feitos a pedido da Polícia Federal, que teve 73,3% de suas solicitações atendidas (4.958). Outros 7.055 relatórios, 46,6% do total, foram feitos para as 27 polícias civis dos governos estaduais, que tiveram 64,1% de suas requisições eletrônicas atendidas.

Nos últimos 10 anos, o número de comunicações formais recebidas pelo Coaf aumentou 553%. Desde 2020, a média anual tem sido entre 6 e 7 milhões delas. No ano passado, 29% das comunicações foram de operações suspeitas. Segundo o estudo, que reúne dados do Coaf e do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), 31,3% dos ilícitos informados nos intercâmbios com o órgão correspondem a tráfico de drogas e 11% a facções criminosas.

As fraudes, que atormentam consumidores e instituições financeiras, aparecem em segundo lugar, com 17,3% do total, seguidas por corrupção (14,2%), crimes tributários (8,2%), tráfico de armas (3,7%) e extrações ilegais, principalmente de ouro, madeira, cobre e diamante (2,1%).

Brasil responde por 10% dos homicídios do planeta

A violência imposta pelas facções criminosas é notória. Em 2021, segundo o último dado mundial consolidado, o Brasil registrou cerca de 10% de todos os homicídios do planeta, embora tenha apenas 3% da população. A América Latina, por sua vez, responde por um terço dos assassinatos no mundo.

O levantamento mostra ainda que o país é também o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Além do tráfico de armas e drogas, as facções atuam com roubo de veículos, cargas, medicamentos de alto custo e de estabelecimentos bancários e comerciais. Além da corrupção de agentes públicos, vende ou impede o acesso da população a serviços básicos, como luz, telefone, gás, retirada de lixo e transporte.

O comando de territórios leva ainda o crime organizado a se expandir no ramo imobiliário. Segundo os especialistas, as milícias não atuam mais sozinhas na grilagem de terras, loteamentos clandestinos e venda de imóveis. Elas já enfrentam a concorrência do PCC e do Comando Vermelho, por exemplo.

–O crime organizado segue a lógica econômica e atua em setores onde é possível ocultar os valores das atividades tradicionais, como o tráfico de drogas e armas – diz o advogado criminalista Pierpaolo Bottini, integrante do conselho consultivo da Esfera.

O estudo afirma ainda que já há relatos de policiais e assistentes sociais que mulheres vítimas de estupro ou violência doméstica, boa parte delas crianças com menos de 13 anos de idade, têm acesso limitado a hospitais, abrigos e delegacias especializadas, a depender de qual facção controla a região onde elas moram.

O retrato do crime organizado no Brasil é ainda fragmentado. Para a Esfera Brasil, que reúne 50 empresas de varios setores, a falta de compartilhamento de dados impede que o país tenha domínio sobre as atividades das facções e milícias, identificando inclusive onde elas atuam de forma associada.

O crime organizado está ainda por trás do roubo e furto de celulares, com a receptação de aproximadamente 1 milhão de aparelhos por ano, muitos dos quais acabam usados em golpes, extorsões, crimes financeiros e até cibernéticos, como exploração sexual de crianças e sequestro de criptoativos. Tráfico de pessoas, de animais e biopirataria também são crimes comandados por facções.

Um dos ilícitos mais antigos do país, o contrabando de cigarros do Paraguai, ainda desafia as autoridades. Em 2022, quatro a cada dez maços de cigarros consumidos por brasileiros vieram do país vizinho. Nos últimos 11 anos, esse crime, que se tornou corriqueiro, levou o Brasil a deixar de arrecadar R$ 94,4 bilhões em impostos.

O vaivém e vem nas fronteiras

E a fronteira do Paraguai segue como porteira de ilícitos. O Paraguai é o destino de veículos roubados no Sul e Sudeste do Brasil e fornece em troca maconha, skunk, armas e cocaína e seus derivados, além dos cigarros. A região Centro-Oeste absorve esses mesmos produtos do país vizinho, mas aumenta a lista com carros roubados.

Veículos roubados no Centro-Oeste cruzam a fronteira da Bolívia e, de lá, muitos são levados para a região Norte do Brasil ou para o Suriname. O ouro ilegal, que também passa por um processo de lavagem e sai do Brasil legalizado, tem rotas diretas da Amazônia para Suriname, Venezuela, Bolívia, Ásia e América do Norte, segundo o mapeamento incluindo no estudo.

A estimativa é que no auge do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, mais de 100 pilotos se instalaram em Boa Vista, capital de Roraima, para servir aos garimpos, seja levando mantimentos aos garimpeiros ou retirando ouro extraído no local – cada voo custava até R$ 10 mil. Ou seja, um controle aéreo eficiente poderia inibir o crime.

De acordo com o estudo, diamantes, por sua vez, saem das regiões Sul e Sudeste com destino à América do Norte, Ásia e Europa.

No caso dos defensivos agrícolas, ou agrotóxicos, a porta de entrada tem sido Argentina e Uruguai, além de remessas feitas diretamente da Ásia para a o Sudeste brasileiro.

Os autores do estudo afirmam que falta ao Brasil uma coordenação nacional de combate ao crime organizado que atue com as mais de 86 corporações policiais do país, além de cerca de 1.500 agências municipais, estaduais ou federais com poder de polícia e aplicação de leis em matéria de segurança.

Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública , com base em dados do Escritório da ONU para Crimes e Drogas, estimou que só a cocaína que transita no Brasil, seja para consumo interno ou exportação, gera um faturamento de US$ 65,7 bilhões (ou R$ 335,10 bilhões), o que equivale a 3,98% do PIB do país em 2021. As autoridades estimam que, mesmo com todos os esforços de combate, seguem por mês quatro toneladas de cocaína pura para a Europa. Em média, apenas 10% da carga consegue ser apreendida.

Comitê interministerial contra facções

Entre as propostas dos autores do estudo para combate ao crime organizado está a criação de um Comitê Interministerial de Combate ao Crime Organizado, que agregaria os governos estaduais e estabeleceria metas, prazos e operações conjuntas; a aprovação, pelo Congresso, da Lei Geral de Proteção de Dados de Interesse da Segurança Pública, para regular o compartilhamento de dados de investigações criminais, e ampliação do Coaf, com incremento de tecnologia e pessoal.

O estudo alerta ainda que novas tecnologias e produtos financeiros — Drex, criptoativos e o super App 38, que vem sendo desenvolvido pelo Banco Central para reunir informações bancárias e financeiras de pessoas físicas e jurídicas – devem levar em consideração riscos e oportunidades de informações sobre a movimentação de recursos ilícitos. O objetivo deve ser não retroalimentar o poder e o portfólio das facções criminosas.

— O Brasil aumentou em 11% os gastos com segurança nos últimos dois anos e isso não resolveu o problema. É preciso regulamentar o compartilhamento de dados da segurança pública para poder seguir o caminho do dinheiro. A solução de mais prisões e aumento de efetivo policial e viaturas já não é mais suficiente – afirma Bottini.

Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/06/25/brasil-tem-72-faccoes-criminosas-e-falta-bracos-para-seguir-o-dinheiro.ghtml

Pierpaolo Bottini: ‘O viés racial e social faz com que a Lei de Drogas seja aplicada de maneira desproporcional, principalmente, para os mais pobres’

O Supremo Tribunal Federal definiu nesta quarta-feira (26) que pessoas flagradas com até 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas de cannabis devem ser tratadas como usuárias e não traficantes. Ontem, os ministros já haviam definido, por maioria, que o porte de maconha para uso pessoal não é crime.

Em entrevista ao Jornal Eldorado, do ESTADÃO, o advogado criminalista e professor de direito penal da USP, Pierpaolo Cruz Bottini, afirmou que o viés racial e social faz com que a Lei das Drogas seja aplicada de maneira desproporcional, principalmente para os mais pobres.

Ouça e entrevista completa em: https://open.spotify.com/episode/5DhVUEq28LR0Mbj5wiRWGO?si=TEXz1-1oQ9aOsQrzv42AAg&nd=1&dlsi=b9c01530db6a4923

Crime organizado avança em áreas lícitas e empresários sugerem cinco ações ao governo Lula

Atuação de facções já passa por pelo menos 21 atividades no País, incluindo setores como transporte público, mercado imobiliário e mineração; a Coluna teve acesso antecipado a dados de um estudo da Esfera Brasil com o Fórum Brasileiro de Segurança que será divulgado hoje

O ESTADÃO destacou nesta terça (25) um estudo realizado pela Esfera Brasil, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e consultoria do advogado criminalista Pierpaolo Cruz Bottini que revela como o crime organizado avançou em áreas lícitas do Brasil. A atuação do crime passa por pelo menos 21 atividades, incluindo setores lícitos da economia – como transporte público, mercado imobiliário, mineração e exploração de madeira.

Os pesquisadores sugerem ao governo Lula uma série de ações para combater o crime organizado. “É preciso fortalecer os órgãos de combate à lavagem de dinheiro, regular e organizar a informação. Hoje não há regra clara sobre como usar dados do Coaf, por exemplo, e muitas investigações terminam anuladas”, destacou Pierpaolo Bottini.

Leia mais em: https://www.estadao.com.br/politica/coluna-do-estadao/crime-organizado-avanca-em-areas-licitas-e-empresarios-sugerem-cinco-acoes-ao-governo-lula/?_gl

Moraes arquiva inquérito contra Google e Telegram por ação contra PL das Fake News

Encerramento da apuração iniciada em 2023 se deu depois de pedido da PGR

BRASÍLIA

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou, nesta quinta-feira (20), o inquérito criminal contra os dirigentes do Google e do Telegram no Brasil que participaram de campanha contra o Projeto de Lei das Fake News. O encerramento da apuração foi pedido pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Eram investigadas suspeitas de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, propaganda enganosa e publicidade abusiva qualificada, além de abuso de poder econômico e contra as relações de consumo.

É comum que, após o pedido do Ministério Público, o magistrado determine o arquivamento de um inquérito criminal.

O inquérito foi aberto a partir de um pedido do presidente da Câmara dos DeputadosArthur Lira (PP-AL).

Em maio do ano passado, quando o projeto de lei estava prestes a ser votado na Casa, o Google publicou em sua página principal de buscas um link cujo título era “o PL das fake news pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”. Além disso, também motivou o pedido de Lira uma mensagem disparada pelo Telegram que afirmava que seria aprovada uma lei que “irá acabar com a liberdade de expressão”.

A proposta acabou não sendo levada à votação.

Segundo a PGR, após a conclusão do inquérito, o órgão não encontrou provas que justifiquem a instauração de um processo criminal.

“A análise do que se colheu durante a investigação criminal denota a ausência de justa causa para a propositura da ação penal”, diz o pedido a Moraes, assinado pelo vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand.

Pelo entendimento da PGR, se posicionar contrariamente à proposta legislativa, ainda que marcada por intenção de privilégio de interesse próprio, não demonstra o intuito de abolir o regime democrático ou tolher o exercício regular dos poderes constitucionais.

O órgão também avaliou não haver ilícitos penais relacionados a relações de consumo.

Na manifestação, o vice-PGR diz que, apesar de ter solicitado o arquivamento em relação ao inquérito criminal, os elementos de prova ainda podem ser aproveitados em ações civis ou administrativas.

A defesa do Google, feita pelos advogados Pierpaolo Bottini e Stephanie Guimarães, disse que a decisão confirma que não houve ato ilícito de parte da empresa, “que se limitou a manifestar sua opinião sobre um projeto de lei, sem qualquer intenção de obstar o debate.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/06/moraes-arquiva-inquerito-contra-google-e-telegram-por-acao-contra-pl-das-fake-news.shtml

Análise: STF julga descriminalização do porte de maconha

Em participação no WW, da CNN Brasil, o advogado e professor de Direito Penal da USP Pierpaolo Cruz Bottini comentou o julgamento no STF sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Bottini destacou que é importante fixar uma quantidade de maconha que diferencie usuário de traficante porque hoje é gerada uma arbitrariedade que na maioria das vezes tem viés social e racial.

Nesta quinta (20), o ministro Dias Toffoli abriu uma terceira corrente no julgamento da descriminalização do porte de maconha. O ministro considerou que a Lei de Drogas já prevê a descriminalização — isso porque impõe medidas socioeducativas e serviço à comunidade como pena. Na prática, seu voto nega o recurso analisado e mantém em 5 a 3 o placar a favor de descriminalizar o uso da droga.

Assista a entrevista completa em: https://www.youtube.com/watch?v=whs2uZPhH08

PL da delação não deve beneficiar Bolsonaro, mas provavelmente irá ao STF

O projeto de lei que está em andamento na Câmara e proíbe delações premiadas de pessoas presas não deve beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos inquéritos em que ele é investigado, mas provavelmente chegará ao STF (Supremo Tribunal Federal). A avaliação é de especialistas ouvidos pelo UOL.

O que aconteceu

A Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (12) a urgência para votação do projeto sobre delações. Com isso, a proposta não precisa passar por comissões e pode ir a votação direto no plenário da Casa. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PL), porém, ainda precisa definir um relator e a data em que o assunto será pautado.

Bolsonaristas esperam que a proposta beneficie o ex-presidente. O projeto proíbe a validação de acordos de delação premiada com pessoas presas. Atualmente, pelo menos três investigações da PF (Polícia Federal) que envolvem Bolsonaro contam com informações da delação de um investigado que estava preso, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.

Para especialistas, a lei não afetaria acordos já homologados, mas se aprovada, deve chegar ao STF. Professores de Direito ouvidos pelo UOL explicam que, por se tratar de uma questão processual, a eventual aprovação da proposta não pode retroagir sobre acordos já homologados pela Justiça, como é o caso de Mauro Cid. Ela só passaria a valer para situações firmadas depois da promulgação.

“Não há impacto em delações já homologadas. A lei processual não retroage (não se aplica a atos já realizados) e só mudaria para as próximas colaborações premiadas.”
Thiago Bottino, professor da FGV Direito Rio.

“Existe uma regra básica de processo penal que estabelece que alterações processuais encontram a investigação em processo no estado atual. O que significa dizer que tudo que foi feito antes da vigência da lei é válido. A partir do momento que a lei muda, dali em diante essas normas são aplicáveis. Então todas as delações homologadas pelo poder Judiciário com a vigência da lei da época são válidas.”

André Perecmanis, professor de Direito Processual Penal da PUC Rio

Retroação afetaria réus já beneficiados

O advogado Pierpaolo Bottini reforça que a retroatividade da lei também poderia impactar na situação de réus que já colaboraram. Muitos foram tiveram atenuações por causa dos acordos de colaboração. O advogado acredita que esse ponto pode reforçar que a lei, se aprovada, atinja apenas novas delações.

“Como é um projeto que restringe o direito do réu, impedindo a colaboração no caso de prisão preventiva, a retroação prejudicaria o réu. Portanto, os efeitos dessa lei não retroagem. (…) Existem muitos réus que estão soltos, mas estão sendo processados, investigados e optaram pela colaboração. Mas com certeza, vai restringir o uso do instrumento.”

Pierpaolo Bottini, advogado criminalista e professor de direito penal da USP

Debate no STF
Professor da USP acredita que tema deve ser levado ao Supremo. Para Alamiro Velludo, professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo, apesar de haver um consenso de que se trata de uma questão processual, o projeto dá margem para discussões que podem ser levadas ao STF.

“Não existe uma determinação específica na legislação sobre eventual efeito retroativo. Não tenho a menor dúvida de que isso vai gerar debate no STF.”

Alamiro Velludo Salvador Netto, professor da USP

Na avaliação dele, se for feita uma análise para além do aspecto processual, a revisão de benefício pode ser debatida. Velludo entende que, do ponto de vista do Direito Penal, poderá haver uma discussão se os acordos com pessoas presas tiverem algum “vício”, isto é, se ficar entendido que a colaboração só foi firmada porque o réu viu o mecanismo como último recurso.

“A lei foi aprovada porque presume algum déficit de voluntariedade para o sujeito que está preso. Na medida em que a pessoa está presa, ela já tem sua vontade um pouco viciada e fica mais vulnerável para aceitar a proposta feita pelo Ministério Público. Essa presunção de vulnerabilidade, se eu considerar que a lei é material, eu poderia em tese criar argumento para a retroatividade.”

Alamiro Velludo Salvador Netto, professor da USP

Lava Jato

O projeto debatido na Câmara foi apresentado na esteira da Lava Jato, em 2016. A proposta foi criada pelo então deputado federal Wadih Damous (PT), na época em que a Operação Lava Jato avançava sobre supostos esquemas de corrupção envolvendo o partido e outras siglas do centrão a partir de várias delações fechadas com empresários e ex-diretores da Petrobras que foram presos. Damous hoje comanda a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), vinculada ao Ministério da Justiça.

Lira ressuscitou a proposta com apoio de bolsonaristas e do centrão. O presidente da Câmara retomou o projeto que estava parado na Casa e decidiu pautar a urgência, em um aceno a bolsonaristas.

Mauro Cid ficou preso entre maio e setembro de 2023, por causa das investigações sobre fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro. Foi solto depois de fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Em março deste ano, ele foi preso novamente, sendo liberado dois meses depois.

Para professor, contexto de hoje é diferente da época da Lava Jato. Thiago Bottino, da FGV, considera que houve avanços nos últimos anos que tornaram mais rigorosos os critérios para se fecharem delações, de forma que não ocorrem situações como as ocorridas na Lava Jato, em que algumas pessoas chegaram a ser denunciadas somente com base em depoimentos de delatores, por exemplo.

“No passado talvez fosse levantado esse debate, porque não existiam as garantias que existem hoje (gravação das negociações, acompanhamento por um advogado, impossibilidade de acusar ou prender alguém só com base em delação etc). Mas hoje não vejo riscos de que as prisões ocorram apenas para forçar colaborações como se viu na Operação Lava Jato, por exemplo.”

Thiago Bottino, professor da FGV Direito Rio

Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/06/14/para-especialistas-pl-que-muda-delacao-nao-impacta-inquerito-de-bolsonaro.htm

Grupo de Estudos Avançados (GEA) em direito Pena Econômico

Na próxima terça-feira (18), o advogado e professor da faculdade de direito da USP, Pierpaolo Cruz Bottini participará de um evento no Grupo de Estudos Avançados (GEA) em Direito Penal Econômico do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

Bottini falará sobre as questões controvertidas da lavagem de dinheiro. Mais informações no site do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

Seminário Internacional sobre Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia

Nos dias 6 e 7 de junho acontece o Seminário Internacional sobre Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia. O evento, realizado pelo IREE – Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, reunirá na sede do IDP, em Brasília, acadêmicos e autoridades públicas do Brasil e do exterior para promover uma discussão ampla sobre estes três temas.

Pierpaolo Cruz Bottini, professor da faculdade de direito da USP, Vladimir Aras, procurador regional da República na 1ª região, André Luís Callegari, advogado criminalista, Rafael Ximenes, diretor de supervisão do Coaf e Fernando Hideo Lacerda, advogado criminalista, participam da mesa: Lavagem de dinheiro: das velhas às novas técnicas no dia 6 às 16h.

O seminário é gratuito e aberto ao público mediante inscrição. Confira a programação completa: iree.org.br

Faça sua inscrição: https://iree.org.br/

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