A seguir, confira quais as suspeitas que rondam o presidente da Câmara e o que dizem especialistas sobre possíveis reações do presidente da Câmara.
Após o julgamento desta terça-feira, Bottini celebrou a decisão. “O arquivamento da quarta denúncia contra o deputado Arthur Lira revela a fragilidade das delações de Alberto Youssef e os riscos de fundamentar acusações apenas nas declarações de colaboradores, sem outras provas que corroborem as narrativas”, disse o advogado.
Suspeitas de fraude em compra de kits de robótica
Outro caso envolvendo suspeitas de corrupção e pessoas próximas a Lira teria acontecido em Alagoas, seu reduto político. O caso teria a ver com a compra supostamente superfaturada de kits de robótica para escolas do interior de Alagoas.
As compras foram financiadas com recursos de emendas parlamentares.
Uma investigação da Polícia Federal apura possíveis fraudes em licitações que teriam resultado em um prejuízo estimado em R$ 8,1 milhões aos cofres públicos.
Na semana passada, a PF deflagrou uma operação que mirou um casal de assessores parlamentares próximo a Lira: Luciano Cavalcante, que atuava na liderança do PP na Câmara dos Deputados, e sua esposa, cujo nome completo não foi revelado.
Segundo as investigações, ela também teria atuado como assessora de Lira. Apesar disso, o presidente da Câmara não teria sido mencionado diretamente pelas investigações até o momento.
Nesta segunda-feira, Luciano Cavalcante foi exonerado do cargo. Na nota oficial divulgada pela Polícia Federal sobre a operação, não há nenhuma menção a Arthur Lira.
De acordo com informações divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo, a PF teria detectado transações financeiras suspeitas entre a Megalic e o casal de assessores de Lira.
As suspeitas são de que eles teriam sido beneficiados com recursos dos contratos supostamente superfaturados.
A BBC News Brasil não conseguiu identificar a defesa de Luciano e Glaucia e também não conseguiu localizar o casal para que eles se manifestassem sobre o caso. A assessoria de imprensa de Lira também não respondeu aos contatos feitos pela reportagem.
Em entrevista à GloboNews na semana passada, Lira disse não ter relação com o caso.
“O que eu posso dizer é que eu, tendo a postura que tenho, em defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil, para toda a população, eu não tenho absolutamente nada a ver com o que está acontecendo”, disse o deputado.
A empresa responsável pelo fornecimento dos kits supostamente superfaturados era a Megalic, localizada em Maceió.
A Megalic está em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda. Edmundo e Lira são aliados políticos em Alagoas.
A BBC News Brasil tentou contato com a defesa de Roberta e Edmundo, mas os advogados apontados como responsáveis por atuar no caso não atenderam às ligações feitas pela reportagem.
Em nota, o escritório que defende a empresa em um processo no Tribunal de Contas da União (TCU) afirmou que as vendas feitas por ela teriam ocorrido dentro dos trâmites legais.
“Em primeiro lugar, que todas as aquisições se deram a partir de parâmetros técnicos delineados pelos órgãos licitantes, sem nenhuma interferência da empresa. Essas aquisições, frise-se, foram precedidas de processo licitatório legal e com ampla competitividade”, disse a nota.
A investigação da Polícia Federal sobre o caso começou no ano passado, após a publicação de uma série de reportagens do jornal Folha de S.Paulo.
O jornal publicou nesta terça-feira (6/6) que a Polícia Federal flagrou, em vídeo, durante a investigação de desvios em contratos de kit robótica, uma suposta entrega de dinheiro para um motorista de Luciano Cavalcante, ex-auxiliar direto de Lira.
Cavalcante é investigado no caso e foi exonerado do cargo de assessor da liderança do PP na Câmara. A defesa de Cavalcante disse à Folha de S.Paulo que as imagens “não indicam nenhum ato ilícito praticado pelos investigados muito menos por Luciano, que sequer aparece nelas” e afirmou que os fatos serão “devidamente esclarecidos no decorrer das investigações.”
Retaliação à vista?
O professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antônio Teixeira afasta a possibilidade de que Lira possa retaliar o governo por conta do aparente “cerco” sobre ele.
“Primeiro porque não parece haver, neste momento, um aparelhamento da PF que pudesse permitir essa conclusão de que a operação da semana passada tenha tido a influência do governo. E, segundo, porque o caso do Supremo não tem ligação alguma com o governo”, disse.
A professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana, por outro lado, acredita que Lira pode, sim, interpretar os movimentos no STF e na PF como uma espécie de “cerco” se fechando contra ele. Ela aponta duas possíveis reações para Lira.
“Ele pode se sentir encurralado. A tendência natural é que ele tente amenizar o seu tom frente ao Executivo e consiga manter uma relação harmônica”, afirmou.
Santana, porém, vislumbra outro tipo de reação possível. “Se ele for para uma linha mais radical, pode tentar barrar a agenda do Executivo ou pressionar para que mais emendas parlamentares e cargos sejam liberados”, afirmou a professora.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqe0g2el9ppo