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A tropa de advogados na guerra entre TC e Empiricus

Sete escritórios estão envolvidos em discussão sobre vídeo anônimo e supostas mensagens privadas

Não dá para dizer que a relação entre TC e Empiricus era de simpatia ou admiração mútua, mas agora escalou de forma acelerada para a esfera criminal. O TC contratou os escritórios Yazbek Advogados e Bottini & Tamasauskas para se defender contra um vídeo apócrifo que a empresa atribui à Empiricus. Pierpaolo Bottini já entrou com uma representação na Polícia Federal e Otavio Yazbek prepara a papelada para CVM. A pedido do conselho de administração, também contratou o Cescon Barrieu para uma auditoria externa. Depois que a acusação de autoria ficou pública, a Empiricus se armou com um quarteto: Moraes Pitombo no criminal, Ferro Castro Neves (FCDG) no cível, Loria e Kalansky no regulatório e Eloy Advogados para uma investigação.

As companhias vão trocar acusações de crimes de honra – calúnia, injúria e difamação – e manipulação financeira. O TC também deve acusar a Empiricus de crime de perseguição e tomar acusação de disseminação de informações falsas, disseram as fontes.

O embate entre as companhias começou em outubro do ano passado, quando a Empiricus fez um relatório recomendando posição short na ação do TC, que não recebeu bem as críticas e discutiu o assunto por meio de liminar. A análise ajudou a pesar no papel do TC, que já vinha em queda na reprecificação geral que sofreram os IPOs mais recentes quando os juros começaram a subir.

Mas a discussão ganhou outro patamar no começo de junho deste ano, quando circulou no mercado um vídeo em que uma mulher om o rosto pintado de palhaça levanta suspeitas de ilicitudes do TC. Em resposta, a companhia de Pedro Albuquerque e Rafael Ferri fez apresentação virtual na semana passada, em que o CEO do TC exibiu uma série de mensagens que atribui a Felipe Miranda e Caio Mesquita, sócios da Empiricus.

As conversas seriam uma comprovação de que a Empiricus está por trás do vídeo da palhaça, argumentou o CEO do TC. A Empiricus nega com veemência tanto que esteja por trás do vídeo quanto a veracidade das mensagens exibidas.

O TC argumenta que a Empiricus é a maior interessada na queda de suas ações, uma vez que a companhia recomendou posição short e montou a posição vendida num fundo da gestora Vitreo, do mesmo grupo. O custo do aluguel da ação subiu nos últimos meses, colocando pressão financeira na aposta.

Mas além da posição short e pública, o TC não tinha elementos concretos para a tese contra a Empiricus. Segundo Albuquerque, o TC começou a receber por email arquivos com conversas do WhatsApp entre Miranda e Mesquita e há também mensagens privadas do Instagram de Miranda, cuja origem o TC afirma desconhecer.

Sem análise forense, Albuquerque disse na coletiva que “não tinha motivos para desconfiar” da veracidade das mensagens. O TC também afirma ter relatos de ex e atuais funcionários sobre a abordagem de Miranda para levantar histórias negativas sobre o TC e seus sócios. O rompante da semana passada contrariou a recomendação de cautela dos próprios advogados, apurou o Pipeline. Nas ações, fez efeito de curto prazo – subiu na semana passada, mas devolveu os ganhos hoje.

A Empiricus afirma em nota que as conversas de WhatsApp apresentadas jamais aconteceram e disse estar tomando as providências cabíveis. Uma fonte diz que há inconsistências nas imagens, com código-fonte mostrando um autor diferente do que aparece na tela do app, assim como inconsistência de padrão no código e no número de arquivos multimídia trocados anteriormente pelos sócios. Correu no Twitter e no WhatsApp um passo a passo para replicar o modelo de mensagem apresentada na coletiva, o que pode levantar dúvida sobre a origem das conversas.

Uma fonte próxima à Empiricus argumenta que não haveria porque a companhia se arriscar num vídeo apócrifo se já tinha bancado publicamente suas críticas ao TC e rebate a narrativa de pressão financeira do short, que representa menos de 2% do fundo em questão. São R$ 16 milhões numa companhia de R$ 12 bilhões.

Depois do vídeo sobre o TC, em junho, não houve ofício da CVM à companhia pedindo esclarecimento sobre os assuntos citados e hoje a autarquia autorizou a DTVM da empresa. Não é definitivo sobre haver ou não uma investigação relacionada, mas o que se sabe hoje é que corre na autarquia uma apuração administrativa sobre a mudança de data da divulgação do resultado trimestral.

O vídeo cita uma investigação da BSM, órgão da B3 de supervisão de mercado, sobre suspeita de spoofing do TC. A BSM segue um rito menos burocrático, que não faz processos registrados como a CVM, mas uma apuração mais “informal” em que não necessariamente comunica a companhia, cruzando uma série de dados e transações. A BSM pode pedir esclarecimentos, o que não foi feito até o momento – em caso de investigação corrente, ainda pode acontecer.

Em processos não administrativos desde o ano passado, há registros como reclamação de investidor e denúncia, tanto de TC quanto Empiricus. O Pipeline solicitou acesso aos processos, mas ainda corre o prazo para a autarquia avaliar o pedido – toda vez que há uma reclamação, há um número de processo, o que não significa ainda que foi avaliado procede ou não.

O CEO do TC citou na coletiva que o BTG teria aberto uma investigação interna contra Miranda e Mesquita. Outra fonte da empresa afirmou que houve uma reunião com Marcelo Flora sobre o tema e que depois o banco teria informado sobre uma averiguação interna de compliance, sob coordenação de Nelson Jobim.

Por meio de sua assessoria, o BTG não comentou o assunto, mas uma fonte do banco negou categoricamente qualquer tipo de investigação nesse sentido. O BTG foi o coordenador único do IPO do TC no ano passado e tem uma boa relação comercial com a casa; é sócio da Empiricus e tem um contrato para investimento adicional na empresa.

Segundo uma fonte, o TC espera que a Polícia Federal possa usar tecnologia de reconhecimento facial no vídeo, para identificar a atriz apesar da maquiagem. A solução do mistério, para a defesa, é encontrar a palhaça. Já o conselho da empresa se volta para o conteúdo do vídeo – a expectativa é que a auditoria externa afaste questionamentos. Na Empiricus, a confirmação de origem do vídeo também será relevante para afastar desconfianças e rebater a oponente, mas a coletiva do TC acabou colocando outros argumentos à mesa e a companhia deve centrar sua estratégia nas acusações públicas, disse outra fonte.

Por Maria Luíza Filgueiras

https://pipelinevalor.globo.com/mercado/noticia/a-tropa-de-advogados-na-guerra-entre-tc-e-empiricus.ghtml

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